Práticas ambientais internacionais têm o intuito de garantir a integridade de atuação das empresas nas mais diferentes frentes
*Por Rosa Ramos
As diversas sociedades contemporâneas ao redor do planeta obedecem a uma lógica complexa de funcionamento de diferentes elementos, como segurança pública, educação, mobilidade urbana, habitação e tantos outros fatores. Ao contrário das cidades da Antiguidade, em que os maiores focos de atenção eram destinados ao comércio, à utilização de meios de troca e às fortificações de guerra contra inimigos, viver em sociedade atualmente significa dedicar esforços também à preservação e promoção de pautas ambientais. Tema que ganhou cada vez mais força nos últimos anos e tende a continuar em destaque nas próximas décadas, a pauta ESG é adotada em maior escala em empresas, instituições públicas e já faz parte da formação dos profissionais que trabalham com infraestrutura.
ESG é a abreviação em inglês para Environmental, Social and Governance, em português, Meio Ambiente, Social e Governança. O termo foi utilizado pela primeira vez em 2004 em uma publicação do Banco Mundial em parceria com o Pacto Global da Organização das Nações Unidas (ONU) e outras instituições internacionais. As três letras em questão atualmente orientam empresas, órgãos públicos e entidades do terceiro setor, por exemplo, a aplicarem boas práticas na atuação perante os três elementos. No mercado, investidores destinam cada vez mais dinheiro a iniciativas que zelam pelo meio ambiente, pelo respeito à diversidade no local de trabalho e por um planejamento corporativo que garanta a honestidade na atuação da empresa diante dos funcionários, fornecedores e demais agentes envolvidos. Um dado recente da Bloomberg ajuda a atestar o cenário atual de atenção à pauta e investimento nela. De acordo com a empresa norte-americana, estima-se que a agenda ESG deve atrair cerca de US$ 53 trilhões em 2025.
O trabalho feito para que existam cidades cada vez mais sustentáveis é objeto de estudo e trabalho dos mais diversos profissionais de infraestrutura. As pessoas que atuam com foco na pauta ESG muitas vezes têm vantagem em relação a outros colegas da mesma profissão, uma vez que essas práticas devem nortear o futuro da infraestrutura nas cidades. Além disso, entender a relevância das práticas ESG permite que os profissionais possam alavancar negócios promissores e angariar parcerias. Dados da consultoria Michael Page mostram, por exemplo, que a busca por trabalhadores com experiência em práticas ambientais, sociais e de governança para atuação em companhias do agronegócio aumentou 50% entre janeiro e maio deste ano. Especialistas explicam que a busca por “profissionais ESG” tem como uma das explicações o movimento atual de incorporação de novas tecnologias do setor.
Uma cidade sustentável é aquela capaz de gerenciar de forma correta aspectos ambientais e sociais, além de ser responsável por engajar empresas a seguirem os melhores parâmetros internacionais de gestão e sustentabilidade. Para que isso seja possível, é importante que o Poder Público, a iniciativa privada e entidades de organização civil trabalhem juntos para promover o avanço da pauta ESG e permitir um futuro mais sustentável, com atenção a questões relacionadas à saúde, moradia, igualdade de cor e gênero, acesso à água e esgoto, segurança e tantos outros elementos. O Índice de Desenvolvimento Sustentabilidade das Cidades, ferramenta que tem o intuito de gerar transformações nos municípios brasileiros, avaliou recentemente 5.570 cidades brasileiras. O levantamento categorizou 752 municípios (14%) com “nível muito baixo de desenvolvimento”, 3.139 cidades (56%) com “nível baixo de desenvolvimento”, além de nenhum município brasileiro ter atingido os requisitos para o “nível muito alto de desenvolvimento”. Ainda é preciso muito trabalho no país.
*Rosa Ramos é advogada e especialista em Direito Ambiental